quinta-feira, 29 de março de 2012

Entrevista com o professor Pedro Celso Campos

Mariana de Sousa Caires

Professor de Técnica em Reportagem e Entrevista do curso de Jornalismo na Unesp de Bauru, Pedro Campos é amplo conhecedor do assunto retratado nessa primeira reportagem do nosso espaço no blog: A Evolução do Telejornalismo.

Graduado em jornalismo na UnB (Universidade de Brasília) em 1976, Pedro Celso Campos trabalhou em grandes telejornais, como o Jornal Painel, de Brasília e o Jornal Hoje, ambos da TV Globo. Concluiu seu Mestrado em Projeto, Arte e Sociedade, na FAAC-Unesp-Bauru e tornou-se Doutor em jornalismo Ambiental na ECA-USP. Nessa conversa, Pedro Campos conta sobre sua experiência em telejornal e revela seu ponto de vista sobre as mudanças ocorridas na área.


REPÓRTER – Pedro, tendo em vista o processo de evolução do telejornalismo, em que ele melhorou?

PEDRO C. – O jornalismo evoluiu muito em decorrência dos avanços na tecnologia. Antes nada era gravado, então com tudo ao vivo os erros não podiam ser corrigidos. Portanto, o videotape foi um grande passo para a melhoria da qualidade do que é transmitido. Hoje o processo de edição é mais completo, o material recebe intervenções e é depurado.
Outra mudança importante foi no Sistema de Transmissão. Não existia transmissão via satélite ou microondas. O jornal era local, ao vivo, específico de cada praça. Mas isso também acabou estimulando cada região a aperfeiçoar sua televisão.
No Governo Militar, foi instaurado o sistema de microondas, na intenção de integrar o Brasil. Esta foi uma estratégia de segurança nacional que facilitou a comunicação em rede, mas também beneficiou algumas emissoras. O Jornal Nacional, por exemplo, foi resultado desse processo e está no ar em rede nacional até hoje com seu grande público. Depois, surgiu a transmissão via satélite, com alcance internacional e além da integração, trouxe como importante mudança a retransmissão de material na TV.

REPÓRTER – Professor, você tem algum exemplo de mudança nos jornais? Elas foram boas?
PEDRO C. – No começo, o jornal brasileiro era mais formal, contando com uma bancada de uma só pessoa responsável por ancorar o telejornal. Mas com o tempo nós adotamos o modelo americano de fazer notícia. Então o jornalismo virou um entretenimento, muitos dos telejornais passaram à forma de revista.
O que era um jornalismo sério sofreu uma quebra de paradigma. O sistema com duas pessoas numa bancada dá ambientação à notícia, hoje o telejornal é mais aberto, há uma cadeia de ressonância entre os repórteres e os âncoras, eles têm muita comunicação em rede.  Este é um modelo interessante, o problema é quando se perde a seriedade no jornal e o foco sai da notícia.

REPÓRTER – O senhor já trabalhou em grandes jornais, fale sobre a sua experiência.

PEDRO C. - Trabalhei como editor no jornal painel, em Brasília, que ia ao ar à meia noite. Ele era de âmbito político e por ser em Brasília, tinha muito a ver com a realidade da capital. No jornal hoje o público era mais abrangente, mas como editor do núcleo de Brasília eu podia fazer um jornal de serviço à comunidade, que dava um olhar sobre a cidade.

REPÓRTER – Professor, o que falta no telejornalismo brasileiro?
PEDRO C. – O telejornalismo brasileiro precisa ser mais bem pautado, pois muitas pautas de grandes emissoras são uma bagunça. Eles têm que tem a noção de que precisam dar conta dos assuntos mais relevantes do país como jornalistas. Além disso, o telejornalismo regional precisa ser mais cuidadoso, já que o retorno é sempre imediato. Há muitos escândalos que mancham a marca do jornalismo. Ele deve deixar de ser tão exagerado e então ser mais a serviço da população. Principalmente, os jornais deveriam ser mais livres, fugir de tantas ideologias e dos interesses de grupo que tanto refletem nas noticias exibidas.

Curriculum de Pedro Celso Campos

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4706097H7&idiomaExibicao=2

Projeto de Pedro Campos na Unesp

Nenhum comentário:

Postar um comentário